quinta-feira, março 01, 2007

Tristeza

Há dias assim.
Ainda ontem o tinha visto, de relance, na gala de aniversário do Benfica. Hoje, depois de almoço, chego ao escritório e sou confrontado com a noticia: morreu o Bento. Não interessa se era Manuel, era o Bento. Para aqueles que, como eu gostam de futebol e para além disso cresceram na década de 80, ele era somente o Bento, e chegava. O guarda-redes do Benfica, que por acaso nem é o meu clube, mas nós também tinhamos o Damas, que não interessava se era Vitor, porque também chegava. Infelizmente já não temos nenhum dos dois mas enquanto o Damas foi vitima de doença prolongada cujo desfecho era previsivel, o Bento foi abrupto. Abrupto como ele era muitas vezes em campo.

Para mim que sou adepto de futebol fica a lembrança da raça e do nervo (que alguns dissabores trouxeram - episódio Manuel Fernandes). Mas fica também a lembrança da qualidade e a natureza de um jogador que o futebol moderno encarregou-se de extinguir: o jogador que era sinónimo de um clube. Bento era Benfica, mas também era Portugal.

Hoje fiquei triste.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Acabar com os referendos

Os referendos em Portugal são uma treta. Ninguém lhes liga. Mesmo uma questão tão polémica e fracturante como o aborto nao consegue levar metade dos portugueses às urnas. Se, um dia, tivermos de nos pronunciar sobre a constituição europeia quantos é que lá vão? três? Quatro? E o mais aberrante é ver os politicos, em noite de referendo, vangloriarem o empenho dos portugueses e os êxitos da democracia. Deviam estar a ver outro filme que não este.

Eu votei, como faço sempre questão de fazer, mas sejamos claros: nós estamos a marimbarmo-nos para estas questões. O espirito civico é pouco e a motivação inexistente (excepto naqueles militantes que obedecem cegamente ao que lhes dizem do partido - as chamadas ovelhas).

O referendo, como está consagrado é uma anedota: não se atingem percentagens de adesão que o tornem vinculativo e então usa-se a sua vertente indicativa e dela se faz lei. Então, para que serve o referendo? Só se for para transmitir para parte dos cidadãos as decisões que, politicamente, ninguém tem coragem de tomar. Faz-se um referendo e ele decide. Nem que só vá votar 30% dos eleitores.

Se só serve para desresponsabilizar (mais) os politicos, acabem-se com os referendos.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Pai é pai

Não compreendo tanto alarido por causa da decisão tomada pelo Tribunal de Torres Novas que condenou o sargento do Exército pelo crime de sequestro da menina de 4 anos. Bem podem vir dizer que ele era como um pai para ela (não era pai adoptivo), que cuida dela desde os 3 meses, e que está disposto a abdicar de tudo (familia, emprego e até liberdade) para ficar com a menina. Mas o que é isto? Amor? Afecto? Sacrificio? Mas desde quando é que isto tem a ver com paternidade? Razão tem o Tribunal em se abstrair destas lamechices e condenar o sargento.

Pai é o outro, o que teve o órgasmo. Sim, porque o órgasmo é que é importante. Sacrificios fez o outro que, aos 21 anos, saltou para a cueca de uma brasileira de 36 (são umas sabidas, estas brasileiras) e a engravidou. E a gaja, ainda por cima tentou entalá-lo e fazê-lo assumir as suas responsabilidades. Onde é que já se viu? Estragava a vida ao rapaz. Pai é o outro que, para além de ter aturado as insistências da brasileira, ainda teve que andar a fugir dela porque ela não o largava. Pai é ele que teve de ser intimado judicialmente para fazer um teste de paternidade. Depois de tudo o que este homem passou, ele é o unico que tem direitos sobre a menina. E os € 30.000,00 que o sargento foi condenado a pagar-lhe não compensam nem um décimo dos problemas que ele teve. Coitado.

Sangue é sangue e todas as outras coisas, amor, afecto, etc., nada valem perante isso. O sangue é que importa. Agora só faltam aparecer aqueles que dizem que, com esta medida, o Tribunal transformou uma menina com uma vida normal numa criança de risco. Era só o que faltava. É sabido que em Portugal não existem crianças nessa condição.

Bem fez o Tribunal em proferir a sentença que proferiu. Aliás, esta vem na senda de outras medidas, tomadas por outras entidades como as Comissões de Protecção de Crianças, que têm feito um trabalho muito meritório no nosso pais. Em 2006 não terão morrido mais de uma duzia de crianças vitimas de maus tratos em Portugal. Continuamos com uma média muito inferior a paises como o Sudão e a Somália. É trabalho para continuar.